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O western ou o cinema americano por excelência

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 Por André Bazin.  O western é o único gênero cujas origens quase se confundem com as do cinema, e que quase meio século de sucesso sem eclipse mantém sempre vivo. Mesmo se contestarmos a igualdade de sua inspiração e de seu estilo desde os anos 30, devemos, ao menos nos surpreender com a estabilidade de seu sucesso comercial, termómetro de sua saúde. Se dúvida, o western não escapou completamente à evolução do gosto cinematográfico, sequer do simples gosto. Ele sofreu e sofrerá ainda influências alheias (as do romance noir , por exemplo, da literatura policial ou das preocupações sociais da época), a ingenuidade e o rigor do gênero foram perturbados por isso. Só podemos lamentar, mas de modo algum ver nisso uma verdadeira decadência. Com efeito, essas influências só foram exercidas, na realidade, sobre uma minoria de produção de um nível relativamente elevado, sem afetar os filmes "classe Z" destinados sobretudo ao consumo interior. Por outro lado, ao invés de lastimar as co...

Um certo tipo de forasteiro

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Dos diversos arquétipos que permeiam o cinema faroeste, talvez a figura do forasteiro seja a mais explorada. Fernando Simão Vugman vai chamá-lo de westerner , um mediador entre a natureza e a cultura; um homem que adentra no seio da comunidade para organizá-la, ainda que esteja sempre em conflito com os códigos e as regras da civilização. Um dos melhores exemplos desse tipo é o Wyatt Earp interpretado por Henry Fonda em Paixão dos Fortes (1946) – outro filme de John Ford que trago à baila neste espaço. Quando o vemos pela primeira vez, manejando uma boiada aos pés do Monument Valley, Wyatt Earp encontra-se um tanto quanto empoeirado e barbudo. Ele troca algumas palavras com os Clantons, ação registrada por um plano levemente inclinado que enquadra o rosto do vaqueiro – o qual, descobriremos mais tarde, abandonou o posto de xerife em Dodge City para se dedicar aos negócios da família. Ainda não sabemos tudo – nunca vamos saber tudo, aliás –, mas o importante a ser destacado é que a câm...

Filme do tempo, gênero do espaço

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Sem demora, mas de maneira estritamente objetiva, os protagonistas de alguns dos conflitos mais caros do cinema faroeste são introduzidos. Por trás dos créditos iniciais deste filme – os quais exibem o título Stagecoach , antes do letreiro Directed by John Ford –, podemos avistar a diligência, a cavalaria e os índios, bem como a natureza desértica da terra que lhes pertence.  Em menos de dois minutos, os contornos destes corpos fotografados em preto e branco despertam no espectador a imagem e a lembrança de temas recorrentes desse gênero cinematográfico, sejam históricos – fundamentados por pioneiros como D. W. Griffith e Thomas H. Ince, mas também pelo próprio John Ford ( O Cavalo de Ferro , 1924) – ou mitológicos – estabelecidos por figuras como William S. Hart e Tom Mix, mas também pelos próximos minutos do longa-metragem que assistiremos.  Trata-se do clássico No Tempo das Diligências (1939), uma das obras que resgatou o prestígio dos filmes de faroeste no amanhecer da d...